“Gosto de acreditar que a nossa música “cria um espaço” para que as pessoas possam desfrutar das canções sem preconceitos”

Alex e Ben da banda D'Alva | Fonte da Fotografia: Pedro Mkk


O Alex Teixeira de 29 anos e Ben Monteiro de 39 anos residem em Lisboa. Sendo que, ambos são os membros da banda “D’Alva”. Este grupo aproveitou esta quarentena com muito trabalho, inclusive já lançaram este sábado dia 9 de maio de 2020, uma nova música chamada “Só a Pensar”. Contudo, prometem ainda mais novidades para este ano. Por fim, confessam também que “Não conseguimos adivinhar o que o futuro nos reserva, mas gostaríamos de continuar ativos e a criar.”

O que significa para vocês a palavra música?

A música pode ser encarada de várias maneiras. É impressionante a forma como algo que não se vê e se manifesta na vibração das moléculas do ar, seja capaz de fazer-nos sentir tanta coisa, e consequentemente influenciam as nossas ações, estados de espíritos, etc. A música ocupa um lugar importante para nós, não só porque amamos fazê-la, mas também porque vivemos de forma tão apaixonada quando é feita por outros.

De que maneira, a música começou a fazer parte das vossas vidas?

Uma das coisas que temos em comum é o facto de os nossos pais terem feito parte da igreja protestante evangélica e tinham funções nas suas igrejas que envolviam tocar música. O pai do Ben tocava guitarra e a mãe órgão nas celebrações e a minha mãe também tocava guitarra por esse motivo tivemos contacto com música cedo e de algum modo herdámos esse gosto dos nossos pais, embora a possibilidade de fazer música como profissão nunca foi algo que imaginássemos nessa altura.

Como é que decidiram criar esta banda, os “D’Alva”?

É uma longa história. O Ben fazia parte da minha banda favorita em meados de 2004 é por aí que nos conhecemos. Com ajuda dos meus amigos costumava organizar um festival independente na Moita (vila onde cresci), em que convidávamos as bandas de que gostávamos a tocar na nossa terra e angariar fundos para uma associação de apoio aos animais. Nessa altura eu já começava a ter as minhas primeiras bandas de garagem e via nesse festival uma oportunidade de tocar com as bandas convidadas.

A do Ben aceitava os nossos convites para tocar neste festival edição após edição, muito pela ligação que estávamos a criar. Numa dessas edições o Ben mostrou vontade de querer ajudar a minha banda a gravar qualquer coisa, mas pouco tempo depois essa banda terminou em 2008. Um dia em conversa onde ele fez-me perceber que se eu compunha as canções e escrevia as letras então poderíamos gravá-las à mesma e editá-las a título individual. Fomo-nos encontrando para trabalhar essas canções, mas com o passar do tempo o que pensámos serem apenas maquetes tornou-se no EP “Não É Um Projeto” (editado em 2012 pela indie FlorCaveira) cuja canção “3tempos” chegou às rádios e chamou a atenção do panorama indie nacional.

Com toda essa atenção sobre um trabalho que no fundo era de equipa e ao vivo ter ajuda preciosa dos nossos amigos, não me parecia justo que fosse assinado apenas com o meu nome, por isso concordámos em começar a apresentar a nossa música sob um nome coletivo, “D’Alva”.

Como é que chegaram à conclusão do nome da banda?

É um dos meus apelidos e é uma palavra bonita, sonantes pouco comum. Quando a ideia era fazer um projeto a solo até surgiu a sugestão deste ser uma espécie de nome artístico para mim, felizmente optei por usar o meu nome que uso para assinar documentos e agora “D’Alva” pode ser o nome desta banda.

Quem foram as vossas maiores influências para entrarem no mundo da música?

Somos ambos muito ecléticos quanto a gostos, mas conseguimos encontrar interesses mútuos e aspetos cativantes em diversos géneros musicais, vão desde a pop à música (mais) extrema, passando pela música exploratória e a eletrónica. Todos os sons feitos no globo influenciam a música que fazemos, por isso fica difícil nomear nomes que conseguem fazer um sumário do que nos influência.

Provavelmente as influências mais obvias são de artistas como Michael Jackson ou Prince, ambos têm uma discografia diversa que tocam sonoramente em distintos géneros musicais como a Pop, o Rock e a Soul e todos as ramificações destes géneros. Artistas com identidade e que não se prendem a géneros etiquetas ou barreiras criativas.

Como foi lançar o vosso disco de estreia, em 2014, #batequebate?

Foi uma época de descoberta e muitas surpresas. Quando fizemos este disco estávamos a fazer canções sem fazer ideia da forma como seriam recebidas. Exploramos linguagens sónicas que não tivemos oportunidade de explorar em outras bandas/projetos que integramos até então e fizemos a música que nos apeteceu fazer, sem preconceitos musicais e sem impor limitações de estilo. Felizmente esse disco foi muito bem recebido e tivemos a oportunidade de tocar em festivais maiores como o Nos Alive, SBSR, Sol da Caparica, ou salas de espetáculo emblemáticas como o CCB ou o Theatro Circo de Braga, entre outros.

O que as vossas músicas significam para vocês?

Cada música tem um significado diferente, mas acabam por ser fotografias de momentos específicos das nossas vidas. É comum que uma música nos lembre o momento e o local onde nos apareceu.

Fazer canções tem também um lado introspetivo e auto terapêutico, mas cujo resultado é partilhado com outras pessoas. Há algo muito bonito quando crias sobre um assunto que te é muito pessoal e depois ver como outras pessoas se relacionam com isso.

Vai haver novos temas brevemente?

Sim, estamos neste momento a trabalhar naquele que será o nosso terceiro trabalho de originais. Chama-se “SOMOS” e será editado dia 13 de novembro. Neste momento já podes ouvir nas plataformas digitais o nosso mais recente single “Só A Pensar” que vai integrar esse disco.

Como é criar uma música em todo o seu processo e depois apresentá-la ao público?

Não temos uma fórmula para fazer música, tudo acontece de forma muito orgânica, mesmo no que diz respeito à maneira como trabalhamos o som em si, usamo-lo como um veículo para transmitir emoções, estórias e nesse sentido recorremos bastante à experimentação. Geralmente temos sempre em mente como é que estas canções serão tocadas ao vivo, pois para nós é muito importante a ligação que criamos com o publico nos nossos concertos.

O que pretendem que as pessoas sintam quando ouvem as vossas músicas?

Gosto de acreditar que a nossa música “cria um espaço” para que as pessoas possam desfrutar das canções sem preconceitos, onde o género ou a forma da mesma não é o mais importante, mas sim como a música chega a cada indivíduo de forma diferente. Quando gente diferente consegue sentir a mesma coisa é sinal de que somos bem-sucedidos.

Como caraterizam o vosso último álbum que lançaram em 2018. Como é que foi vê-lo atingir logo o número um do top de álbuns do iTunes?

Foi uma enorme surpresa para nós. Não fazemos música com esse tipo de expetativa. Obviamente ficámos muito felizes por saber que as pessoas queriam ouvir o nosso álbum.

Qual é o tema que mais se orgulham de cantar?

Acho que “A Carta” é um dos momentos mais especiais que temos nos nossos concertos, não só pelo que o instrumental nos faz sentir, mas também pela mensagem íntima e especial que carrega. É daquelas que podemos ver as reações de quem está na plateia, mesmo quando não a conhecem e acreditamos que cumpre bem a missão de gerar mais empatia entre todos nós. 

Como foi participar no festival da canção 2020?

Nós já tínhamos participado na edição de 2019 como compositores da canção “Inércia” interpretada pela nossa talentosa amiga Ana Claúdia, e essa foi uma experiência absolutamente inesquecível pelos melhores motivos. Gostaria mesmo de ter mais oportunidades para estar não só com os artistas que fizeram parte dessa edição, mas também com as pessoas da equipa do Festival da Canção da RTP. Temos saudades desses dias bem passados a celebrar esse momento da música portuguesa.

Agora em 2020, foi para mim uma honra enorme poder aceitar o convite do Samuel Úria para fazer parte desta homenagem ao Rock Português e poder pisar aquele palco na qualidade de convidado, juntamente com a Surma, Joana Espadinha, NBC, a lenda viva Lena d’água e todos os músicos que compõem a banda do Úria. Estava mesmo rodeado de artistas que admiro imenso.

Falem um pouco do vosso último single “Só A Pensar”?

Fizemos esta canção no final do ano passado de forma espontânea. O Ben brincava com os sons de um sintetizador e inspirado pelos mesmos começou a tocar instantaneamente os primeiros acordes que ouves nesta canção. A letra também escrevemos mais rápido do que é habitual. Quem sabe se não foi ter sido tão imediata e sem filtros que fez com que as pessoas se estejam a relacionar com ela de forma tão imediata, como fazem questão de nos dizer por dm’s. É uma canção que explora uma solidão particular, um certo tipo de isolamento, que na verdade já se fazia sentir mesmo antes de imaginarmos um período de quarentena e isolamento social.

Porque a escolha da música “Verdade sem Consequência”?

À semelhança da “Só A Pensar” esta também foi uma ideia que surgiu de forma muito espontânea e não foi trabalhada ou pensada como single, mas a verdade é que também causava uma reação forte em nós e a quem mostrávamos. Sentimos que seria boa ideia mostrar às pessoas uma faceta diferente, mesmo sabendo que seria um risco fazer algo diferente da expectativa do público. Felizmente a música falou mais alto, as pessoas gostaram da canção e por consequência permitiram-nos ficar várias semanas em primeiro lugar em vários tops de rádio, especialmente no A3-30 da Antena 3 onde estivemos em primeiro lugar 9 semanas consecutivas.

Qual é o vosso maior objetivo profissional a atingir?

Para nós o mais importante é que a nossa música marque a vida de quem a ouve, que seja a banda sonora do seu quotidiano e dos seus acontecimentos especiais. O nosso maior objetivo é fazer com que estas canções cheguem ao maior número de pessoas que se possam identificar com elas. Queremos tocar muito mais e para mais gente pois quando dizemos “Somos D’Alva” não nos referimos só a nós e o resto da banda, mas também à nossa equipa que está nos bastidores, e todos os que estão connosco na plateia, toda as pessoas que queiram fazer da nossa música a sua música. Olhamos para D’Alva como uma grande família e queremos que essa família cresça.

Como se imaginam daqui a 10 anos, no que diz respeito, à vossa carreira profissional?

Não conseguimos adivinhar o que o futuro nos reserva, mas gostaríamos de continuar ativos e a criar.

Que conselho oferecem aquelas pessoas que querem seguir o ramo da música?

Perseverança, paciência, resiliência e saber lidar com críticas, boas ou más, falsas ou verdadeiras. As coisas não acontecem do dia para a noite, é importante perceber quando não desistir ou quando de facto é melhor desistir, (de uma ideia, direção, etc.) e dar sempre o melhor que podemos. Aprender a valorizar cada etapa do caminho que está a ser feito, não viver num futuro que ainda não existe. É muito importante ter objetivos, mas há uma beleza maior nas coisas que acontecem durante a jornada, e muitos músicos perdem o rumo por não estarem presentes no aqui e agora. É importante também estar em constante evolução, aprender com a experiência de quem está nisto há mais tempo que tu e as ideias frescas de quem está a começar.


Alex e Ben da banda D'Alva | Fonte da Fotografia: Pedro Mkk

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