Diferentes caminhos que se cruzam, no concelho de Santa Maria da Feira



Placa que sinaliza a freguesia de Santa Maria da Feira

Em pleno inverno procurei explorar o porquê de os homens do concelho de Santa Maria da Feira, envergarem pelo caminho da religião.

 Cada pessoa realiza decisões na sua vida que a leva a um determinado fim. Consequentemente, na religião não é diferente.

 Através de uma entrevista aos seminaristas Celso Gomes, João Bernardo, Gonçalo Pinto e aos Padres José Gregório e José Campos, pode ser constatado que há vários caminhos e decisões que os levaram até ao mesmo destino. Sendo que, estes têm pensamentos e objetivos perante a igreja católica diferentes.

Enquanto antigamente, na maioria dos casos, os homens tornavam-se padres porque os seus pais pretendiam que assim fosse. Atualmente, os jovens tomam essa decisão individualmente.

Assim sendo, através das entrevistas realizadas compreendemos os seus objetivos, os problemas que estes consideram que a igreja ainda deve ultrapassar, como vêm a religião atualmente, em Portugal, e como eles católicos vêm as outras religiões.

Como já foi proferido pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa “não há Portugal sem cristianismo. Assim foi desde os primórdios da nacionalidade”. Portugal tem como religião predominante o cristianismo, uma religião abraâmica monoteísta centrada na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, tais como são apresentados no Novo Testamento. A fé cristã acredita essencialmente em Jesus como o Cristo, Filho de Deus, Salvador e Senhor.

Primeiro entenderemos o porque dos mais jovens envergarem pelo caminho da religião. E posteriormente, o porquê de mais duas gerações também o fazerem. Todos estes conscientes e plenos em todas as conversações daquilo que partilhavam.

Num edifício fresco e húmido, que é a Comunidade Passionista falamos com os três seminaristas, assim como também o Padre José Gregório, onde todos habitam. Depois, na freguesia de Fiães, na casa oferecida ao pároco nesta cidade, falamos com o Padre José Campos. A casa carateriza-se por ser antiga e fresca com portas, corredores e salas pequenas.

Exterior da igreja dos missionários passionistas, em Santa Maria da Feira, Fonte da fotografia: Sofia Coelho

Interior da igreja missionário dos passionistas, em Santa Maria da Feira, Fonte da fotografia: Sofia Coelho

“Quero seguir a minha vocação e conhecer melhor Deus”, Celso Gomes

Seminarista Celso Gomes, Fonte da fotografia: Padre José Gregório 

O jovem seminarista Celso Gomes tem 15 anos. Entrou para o seminário em 2015, onde se encontra até hoje. Tendo como objetivo tirar o mestrado integrado em teologia para se puder tornar sacerdote. Sendo que, não pretende deixar outros sonhos para trás.

“Eu entrei para o Seminário porque queria conhecer a religião católica, da qual faço parte. Queria seguir, e quero seguir a minha vocação e conhecer melhor Deus. Frequento este seminário desde julho de 2016 e antes de entrar no seminário frequentava o pré-seminário desde setembro de 2015, no qual participei em diversos encontros.

Apesar de estar no 10º ano, acho que já tenho o meu futuro meramente organizado. Primeiro gostava de acabar o Ensino Secundário no Curso em que estou para poder tirar o Mestrado Integrado em Teologia para ser Sacerdote. Depois, tenho ainda o sonho de poder tirar um Doutoramento em Direito Canónico, uma vez que, desde a minha infância, gostava de ser padre e juiz.”

Este seminarista reside em Gião, freguesia do conselho de Santa Maria da Feira. E refere que apesar de só ir a casa ao fim de semana tem uma boa relação com os seus pais.

“A minha relação com os pais é bastante tranquila e pacífica, apesar de os ver só ao fim de semana. Depois destes quatro anos no seminário, já me fui habituando, apesar de ainda sentir algumas saudades.”

Celso também refere como é a sua rotina durante a semana no seminário, “O dia-a-dia no seminário é bom. Passamos a maior parte do dia na escola Secundária de Santa Maria da Feira e quando chegamos ao seminário fazemos diversas atividades, brincamos, vemos televisão, vemos filmes, estudamos, rezamos, treinamos música, que no meu caso é órgão de tubos, entre outras coisas.”

Sendo que esta rotina é igual para os restantes seminaristas seguintes, visto que, os três frequentam o mesmo seminário menor.

Conclui a conversa esclarecendo o que significa para ele a dedicação ao caminho religioso. “Para mim o seminário é um sítio para crescermos intelectualmente e espiritualmente. Desenvolvemos novas capacidades e formamos uma nova família, a família dos Seminaristas.”

“Entrei direto para o seminário”, Gonçalo Pinto

Seminarista Gonçalo Pinto, Fonte da fotografia: Padre José Gregório

Gonçalo Pinto tem 16 anos e é natural de Válega, Ovar. Encontra-se no seminário, assim como, o seu irmão Guilherme que também é seminarista e frequenta o terceiro ano . Sendo que, está a tirar no secundário o curso profissional de gestão e programação de sistemas informáticos.

O jovem começou por esclarecer como se sucedeu a entrada no seminário, “Há três anos foi-me feita uma proposta por um amigo, que na altura era pré seminarista, a perguntar o porquê de não ir ao pré-seminário e eu aceitei a proposta. Contudo, apesar de não frequentar o pré-seminário, entrei direto para o seminário após falar com o Padre Francisco, que na altura era um dos diretores dos seminaristas.”

De modo a finalizar a conversação, o seminarista refere que ainda se encontra na dúvida relativamente ao que vai fazer no futuro. “Por agora o meu sonho para o futuro seria ser programador ou dar assistência técnica aos computadores das pessoas que necessitassem de ajuda, mas quem sabe se quando terminar o 12º ano não possa seguir em frente e ser padre.”

“Entrei no seminário quase que “do pé para a mão”, João Bernardo

Seminarista João Bernardo, Fonte da fotografia: Padre José Gregório

João Bernardo tem 17 anos e é das Caldas de São Jorge, Santa Maria da Feira. Neste momento, para além do seminário também se encontra no 12º ano escolar.

O jovem seminarista confidenciou-nos o porque da sua entrada no seminário. Sendo que, era algo que já queria algum tempo, mas que no fundo não sabia se era o certo a fazer. Porém, tomou a decisão de entrar e experimentar.

“Entrei no seminário quase que “do pé para a mão”. Em 2017, decidi experimentar algo novo, o seminário, perguntei aos meus pais e eles acompanharam-me nesta decisão. Já tinha algum conhecimento sobre o que era o seminário porque já tinha frequentado o pré-seminário (acontece aos sábados, ou sábado e domingo – são encontros de jovens rapazes com idades entre 10-16), além disso já tinha tido a vontade de entrar mas nessa altura fui recusado, posteriormente disseram que estava aceite mas não quis entrar, passado dois anos entrei.”

“Ideia de um Deus senhor para um Deus amigo”, Padre José Gregório

Padre José Gregório, Fonte da fotografia: Sofia Coelho

O Padre José Gregório pertence à comunidade missionária dos passionistas e tem 30 anos. É natural de Ovar. E atualmente reside na Comunidade Passionista em Santa Maria da Feira, há quatro anos. Deste modo, para ser ordenado padre, licenciou-se em teologia. A decisão de se tornar padre foi algo que foi sendo descoberto ao longo do tempo. No entanto, cronologicamente foi mais ou menos aos seus 25 anos. Entrou no seminário dos missionários passionistas de Santa Maria da Feira com 13 anos, por causa do futebol. Porém, havia uma inquietação dentro de si e sentia que devia deixar uma pegada no mundo, o que podia ser uma carreira no direito como juiz ou advogado.

A conversa com Padre José começou por volta das 15h. Esta demorou algumas horas, devido à densidade de sabedoria que tem para partilhar. Um pouco nervoso, começou por explicar como inconscientemente decidiu dedicar-se à religião. Concluindo que as pessoas não se devem recusar a realizar o caminho da religião sem o tentar conhecer e entender.

“A minha vida de fé foi tendo um crescendo naquilo que é o meu conhecimento da religião, do cristianismo e de forma particular daquilo que é a vida passionista. Entrei no seminário aos 13 anos, numa brincadeira de amigos. Foi quando um padre veio visitar-nos à escola, falar sobre as missões e foi nos lançado alguns desafios de descoberta daquilo que era Jesus para a nossa vida e o que me cativou a participar nestes encontros foi o facto de ele dizer que jogávamos futebol neles.

Comecei a participar nestes encontros que era mais ou menos um encontro de três em três meses, cujo o objetivo era de amadurecermos de darmos esta oportunidade de nos colocarmos à escuta de Deus. E foi nestes encontros onde eu fui passando um pouco da ideia de um Deus senhor para um Deus amigo.

Quando me lançaram o desafio de entrar no seminário, claro que no início causou-me alguma apreensão porque seria passar uma semana longe de casa, longe dos pais, vivendo aqui no seminário e só aos fins de semana é que estaria com eles. No entanto, aceitei esse desafio juntamente com outros amigos.”

A conversa sucedeu-se numa das entradas da Comunidade Passionista. Sendo que, incrivelmente, o silêncio pairou durante toda a conversação. E o Padre José Gregório, depois já mais descontraído, continuou a relatar a sua entrada no caminho religioso.

“E a verdade é que durante este tempo no seminário sempre me foi questionando e cativando com os testemunhos de missionários que vinham passar férias a Portugal, que estavam noutros países e que nos contavam um pouco da sua missão; também os padres daqui da comunidade. Tudo isto me foi ajudando a perguntar inicialmente, e porque não está vida?

Ao entrar na universidade entre estes cursos que eu poderia escolher entre os quais faria parte também o direito decidi dar este passo de começar a estudar teologia e ver o que seria e se seria realmente o meu caminho por aqui. E a verdade é que logo do tempo, os primeiros anos de teologia cativaram-me de uma forma, que não pensei duas vezes se deveria sair ou continuar, e continuei.

Depois dos dois primeiros anos a estudar em Lisboa, na Universidade Católica no curso de teologia parei um ano os estudos para ter uma formação mais especifica sobre os passionistas, onde estive a viver um ano em Itália. Posteriormente a Itália, pediram-me para ir estudar para Porto Rico outro ano. E depois de Porto Rico, regressei novamente a Lisboa para continuar e concluir os estudos em teologia. Seguidamente a estes três anos, foi no fundo aqui onde senti de uma forma mais concreta e mais objetiva este chamamento de Deus à vida consagrada, isto é, como passionista e depois como sacerdote.”

Exterior da igreja de Fiães, Fonte da fotografia: Sofia Coelho

Interior da igreja de Fiães, Fonte da fotografia: Sofia Coelho

“Eu achava que a minha missão era maior, mais importante que a dos médicos”, Padre José Campos

Noutro dia, sucedeu-se uma conversa com o Padre José Campos. Um padre com alguma idade que se disponibilizou de imediato para dar o seu testemunho.

O Padre José de Almeida Campos tem 78 anos e reside em Fiães, onde também executa as suas funções como padre. Quando se formou ainda não existia universidades, por isso fez os seus estudos como padre no seminário maior do Porto.

Naquela que é a sua residência ouvia-se tudo o que acontecia fora das paredes da sua casa. Desde os carros a passar, as pessoas a falar e o sino a tocar nas devidas ocasiões.

Com toda a calma, iniciou a explicação dos motivos que o levaram a seguir o caminho da religião.

“Eu quando fui para o seminário tinha 11 anos, por umas razões, que as designo agora infantis. A principal razão era porque gostava muito do meu padre, não dizia asneiras e eu simpatizava com ele. Posteriormente, aos 18 anos já estava lá por outras, fui a profundado. Eu comparava-me muito com os médicos, por exemplo, por dar felicidade as pessoas, mas eu achava que a minha missão era maior, mais importante que a dos médicos. A dos médicos é dar saúde durante uns anos, e eu queria que as pessoas fossem felizes para toda a eternidade, porque isso é importante para mim. “Sentiu-se a sinceridade em todas as suas palavras.

O Padre Campos antes de se tornar padre tinha outras opções em mente, “Pensei em ser missionário e ir para uma vida mais contemplativa ou então a vida que foi entregar-me à diocese do Porto e ser missionário padre, no entanto, devido aos meus problemas de saúde, o meu diretor espiritual disse que eu não tinha saúde para isso, então renunciei.”

Contributo dos homens de Santa Maria da Feira para a religião católica

Posto isto, através destas entrevistas é possível compreender que os jovens e homens, em Santa Maria da Feira, envergam pelo caminho da religião por diversos motivos. Porém, nem sempre se limitam à religião, partilham outros sonhos. Estes rapazes e homens são pessoas perfeitamente normais, que vêm televisão, estudam e saem para realizar atividades.

Apenas têm de cumprir algumas regras especificas da sua profissão. E nem todos concordam com todas as normas apesar de se regirem por elas. Como foi percetível através da questão do celibato, que os padres não entraram em consenso, se é ou não um problema que a religião católica tem que ultrapassar.

Por fim, é percetível que estes homens envergam pelo caminho da religião todos com ideias diferentes do que cada um pode trazer de novo ou mesmo influenciar para melhorar a religião católica.




Para verem esta reportagem mais completa acedam ao link seguinte. Neste link vão puder ler mais detalhadamente esta reportagem e ainda ouvir audios dos padres entrevistados.

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