“A música nasceu comigo"

António Ferrão, mais conhecido com Toy, cantor português


António Manuel Neves Ferrão tem 56 anos e é o cantor popular português Toy. O artista refere que a música está em tudo, e que não se conseguia ver sem a mesma. António Ferrão tirou o curso de contabilista, no entanto, quando emigrou para a Alemanha trabalhou como torneiro-mecânico e refere que o mundo do trabalho não lhe causa medo. Na Alemanha entrou em alguns grupos de música, porém mais tarde decidiu que ia voltar para Portugal e começou a construir a grande carreira que é hoje conhecida.

Sofia Coelho: O que o trouxe para o mundo da música?

António Ferrão (Toy): Eu desde que comecei a entender a vida, portanto, logo de menino e moço. Eu acho que comecei a cantar antes de falar. Já entoava, dizia a minha mãe, com 8 meses. E sei que pisei o palco, a primeira vez, aos 5 anos. O meu pai era e foi sempre músico, embora amador de profissão alfaiate, tocava guitarra, violino, bandolim, banjo. E eu tinha os instrumentos em casa, tanto que o meu primeiro instrumento, que eu aprendi, foi bateria, pelo ritmo, depois mais tarde guitarra, e por aí fora, mas a música nasceu comigo! Acho que a arte nasce com as pessoas, depois pode ser ou não melhorada com o tempo.

Porquê a escolha do nome artístico Toy?

Toy: Fácil! Eu sou António de nome de batismo e na nossa região, Setúbal e mais para baixo Alentejo, o diminutivo de António é Toy. Ao contrário do Norte, que o diminutivo é Tony ou Tone. Portanto, há vários Toy’s no Alentejo, em Setúbal, há mais Toy’s. Desde pequenino que me chamavam Toy. Quando eu gravei o primeiro single em vinil, coloquei o meu nome António Ferrão, e a primeira vez que fui à rádio, começaram as pessoas a telefonar e a chamar-me senhor António Ferrão, e eu só tinha 25 anos, e toda gente me chamava Toy. Por isso, eu achei que quando fizesse um novo disco teria de pôr o nome pelo qual eu me identificava melhor.

Como descreve o seu percurso até agora?

Toy: Eu acho que olhando para o meu percurso, se tivéssemos de solidificar essa substância abstrata, eu diria que o meu percurso foi uma escada com variadíssimos degraus, e todos eles foram pisados. Portanto, o meu percurso não foi um elevador que subiu de repente ao décimo andar, foram escadas que nós subimos degrau a degrau com muita calma. E estamos num patamar interessante, mas há sempre mais para subir e se um dia tiver de cair das escadas, eu conheço os meus degraus, porque os subi um a um. Se tivesse subido de elevador provavelmente a cair das escadas era capaz de me magoar. Portanto, penso que às vezes o subir muito rápido é muito mais complicado. Acho que as pessoas devem apalpar sempre centímetro a centímetro.

Tem algum projeto para breve?

Toy: Eu tenho sempre projetos! Agora, neste momento, o mais importante é fazer dois ou três temas novos para refrescar, digamos assim, o reportório. Também, tenho um projeto engraçado com os “Trivium” que é uma banda de metal que gravamos o tema em dueto, o “toda a noite” que é assim que é conhecido, porém chama-se “o coração não tem idade”. Nomeadamente, por acaso recebi um e-mail, de um pedido de autorização que vai ser editada no mundo inteiro. Portanto, espero que seja aliciante, e que a música se espalhe muito mais do que já está.

O que mais gosta na sua profissão?

Toy: De cantar! Sem dúvida nenhuma! Porque eu sou compositor, autor, faço canções, toco instrumentos, faço arranjos, produção, gosto de fazer tudo. Porém, o que mais gosto é de estar em cima do palco a cantar. É efetivamente o que mais gosto!

E o que menos gosta?

Toy: Gosto pouco de estar em estúdio à espera de encontrar o som e a definição do som daquilo que se pretende, quando se está a fazer a mistura de um tema. É uma profissão chata, às vezes é uma coisa que não é logo. E eu gosto das coisas logo, gosto de tudo feito no momento. E misturar por vezes não é no momento, temos de deixar de um dia para o outro, e para outro. Para além disso, às vezes temos de levar para casa e ouvir, reouvir, perceber que não está bem, voltar a fazer. Não é fácil. É um trabalho muito complicado.

Toy fale-me um pouco das suas músicas. Há alguma que considere mais especial?

Toy: As músicas que eu construí são cerca de três mil, embora nem todas cantadas por mim, como é evidente, são cantadas por muitas pessoas. Existem grandes sucessos como o “a e i o u” da Ana Malhoa, por exemplo, é uma música da minha autoria. Assim como, sei lá, são tantas Beto, Laura Li, Zé Malhoa, Ana Malhoa, da Agatha, Tony Carreira também já gravou músicas minhas, o Marco Paulo, quase toda gente.
As músicas para mim são como filhos. Filhos que eu deixei que fossem adotados por outras vozes, mas nós amamos os filhos todos da mesma maneira. Agora há filhos que dão surpresas muito agradáveis. Como por exemplo, nós descobrirmos que um filho nosso tem muito sucesso, que é muito querido por muita gente, ficamos muito felizes por ele. Não gostamos mais dele do que dos outros, mas dá-nos uma satisfação somada, não é? E, portanto, as músicas que o público mais gosta, nós acabamos sempre por gostar e ter muito prazer nessas canções.

Como se sente ao criar uma música, em todo o seu processo, e depois apresentá-la ao público?

Toy: O criar a música depende sempre muito. Tu fazes com inspiração ou com transpiração, ou seja, ou a música já nasce dentro de ti e foi uma inspiração que tiveste, ou então dizem que tens de fazer uma música de cor branca, com notas agudas, etc. Já fiz músicas por encomenda, para novelas que temos de ler a história e fazer as músicas baseadas nelas, isso é a transpiração. Portanto, tive de me basear numa coisa que já existia para fazer as canções. Por outro lado, a inspiração nasce do nada. É quando uma lembrança, uma recordação, um comportamento, um ato, um acidente. Quando digo um acidente, não é necessariamente um acidente mau, pode ser um acidente bom, não é?     Por exemplo, uma pessoa ficar grávida pode ser um acidente. Uma pessoa apaixonar-se de repente, ou conhecer um casal que se apaixonou de repente, ou ouvir uma história de alguém que seja interessante, ler um livro, ver um filme, muitas coisas nos servem às vezes. Eu acho que a inspiração é uma espécie de um sonho que nós conseguimos transcrever nas canções, tal como um pintor nos quadros, os autores dos próprios filmes.

O que tem a dizer sobre a música “coração não tem idade”? Achava possível todo o sucesso que conquistou?

Toy: Eu quando faço um filho acho sempre possível que ele seja o melhor filho do mundo, esperei sempre isso de todas as canções e curiosamente à medida que o tempo foi passando as minhas canções de 2000-2002 estão a ser regravadas e a ser sucesso! Nomeadamente, o “sensual” está a ser um grande sucesso neste momento. Esta canção tem dezassete anos e o “estupidamente apaixonado” tem vinte e dois anos. Logo, acho que as grandes obras de arte, e não estou a dizer com isto que as minhas canções são grandes obras, no entanto, acho que as grandes obras de arte sobrevivem ao tempo. Portanto, as coisas boas são intemporais, não passam de moda nunca, têm sempre um público fidedigno, mas também têm público novo. E tu quando pegas numa pessoa versátil, tu consegues vesti-la de várias formas e ela poderá ter vários aspetos. E a canção é a mesma coisa, pode ter aquele aspeto de folclore, por exemplo, em 1997 e agora vesti-la com umas calças de ganga rotas e com uns ténis All-star, tem outro aspeto. Embora, a pessoa seja a mesma.

O que pretende que as pessoas sintam quando ouvem as suas músicas?

Toy: Depende muito. Quando eu estou a transmitir sentimentos em canções que são profundamente nostálgicas, pretendo que as pessoas percebam e que se arrepiem no sentido de se sentirem vivas. Portanto, se a vida é amor, que é a minha conceção de vida, que há pessoas que já morreram e que são vivas porque são amadas, há outras que estão vivas e já morreram porque ninguém as ama. Se a vida é o amor, eu acho que quando nós o transmitimos sentimentos e as pessoas se arrepiam, sentem-se tristemente felizes. Não sei se isto faz algum sentido, é como quando uma pessoa se apaixona e não é correspondido. Enquanto, a coisa não acontece há aquele sofrimento, mas que sabe bem. É um paradoxo, mas que faz sentido, e, portanto, quando estou a cantar essas baladas espero que as pessoas sintam, que é sinal de que têm sentimentos. Por outro lado, quando estou a cantar canções divertidas, espero que as pessoas se divirtam e que esqueçam os problemas do quotidiano. E no fundo o concerto vive disso, de uma mistura de emoções, porque no fundo a música é apenas uma forma de transcrever as minhas emoções através da música que canto, que faço e que as pessoas sintam essas emoções e que as partilhem comigo e que dividam esse tempo comigo e se esqueçam de outras coisas complicadas da vida que as vezes nos deixam tristes.

O que significa para si ser cantor?

Toy: Eu lembro-me de ser menino e ter a certeza que a minha vida ia ser essa. Portanto, não consigo conceber a minha vida de outra forma. Já fiz muita coisa, tirei o curso de contabilidade, estive na Alemanha a trabalhar noutras áreas, porem tinha a certeza de que mais cedo ou mais tarde isto ia acontecer.

Sendo assim, não se imaginava a fazer alguma outra coisa sem ser música?

Toy: Não de forma nenhuma.

Qual foi o melhor momento da sua carreira?

Toy: O melhor momento da minha carreira vai acontecer brevemente, com certeza. Ainda ontem o concerto foi tão bom em cruz. Os melhores momentos são aqueles que vemos as pessoas a cantar as nossas canções e que nos dizem que gostam de nós. E esta história das redes sociais é muito importante para nós porque podemos sentir as pessoas mais de perto. Já tive tão bons momentos, é como ter vinte filhos e perguntar qual deu mais emoção ao nascer, é muito complicado.  

Qual foi a melhor coisa que lhe disseram em todo o seu percurso musical?

Toy: É sempre o “amo-te” das pessoas que eu gosto de ouvir, da boca de quem eu gosto de ouvir, dos meus filhos, da minha mulher e um dia da minha neta, que está quase.

O que queria concretizar na sua carreira profissional que ainda não tenha tido oportunidade?

Toy: Eu acho que tudo está por concretizar, ou seja, porque tudo o que está feito, está feito. A partir de agora, de cada dia que nasce, de cada manhã que existe na minha vida é o princípio de tudo sempre, porque eu acho que nós acharmos que fizermos alguma coisa é envelhecermos e eu não quero envelhecer nesse sentido. Apesar de gostar muito de envelhecer enquanto experiente e sábio, não envelhecer no sentido de estar a acabar porque deixar o legado é importante para os meus filhos, para os meus netos terem orgulho de mim é manter-me vivo eternamente e eu não quero eternidade para meter nojo as pessoas, quero deixar uma boa recordação. Portanto, todos os dias é o primeiro dia do resto da minha vida.

O que simbolizam os seus fãs para si?

Toy: São a razão da minha vida profissional, se eu tiver uma vida pessoal e uma vida profissional, eu diria que a razão da minha vida pessoal é a família e os amigos e a razão da minha vida profissional são a família e os amigos profissionais que são os meus fãs, que são aqueles que nos dão vontade de continuar a fazer aquilo que temos feito até hoje, aqueles que nos incentivam com um sorriso, com um bater palmas, com uma mensagem, com um gesto. Atualmente, há muitas formas com que as pessoas se podem manifestar aquilo que é de agrado ou não.

Sente que as pessoas têm orgulho no seu percurso?

Toy: Eu sinto que as pessoas têm orgulho em mim e eu sinto que tenho muito orgulho em muitas pessoas que as vezes com a nossa forma de estar, o nosso comportamento e a nossa atitude podemos mudar as vezes umas pessoas para melhor, essa é uma tentativa também. E eu acho que quando as pessoas estão felizes funcionam melhor e eu acho que faço muitas pessoas felizes e essa é a minha grande felicidade, porque ser feliz é fazer os outros felizes!

Que conselho sugere para quem quer seguir o mesmo sonho?

Toy: Primeiro olhar para o espelho espiritual perceber se realmente tem ou não talento. Se tiver efetivamente talento, lutar sempre e nunca desistir.










Comentários

  1. Muito boa reportagem os meus parabens🥰 gostei imenso de ler mais sobre a biografia do nosso famoso toy🤗

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ainda bem que gostaste querida!! Fico mesmo contente pelo teu feedback!! Beijinhos

      Eliminar

Enviar um comentário