“Só me imagino na área da música”



Márcio Filipe Ferreira Augusto tem 25 anos e formou-se na Escola de Jazz Luiz Villas-Boas, Hot Club Portugal. É músico, “Baixista” e trabalha com artistas portugueses como: Bárbara Bandeira, Plutónio, Luís Sequeira e FRED. Sendo que, também possuí a sua própria banda, os Soul Cats. Augusto mostra ser uma pessoa com metas profissionais definidas e aconselha aos indivíduos que pretendem seguir o ramo da música a lutar pelos seus sonhos e objetivos, procurando ter cada vez mais conhecimentos.

De que forma caraterizas a palavra música?

Márcio Augusto (MA): A palavra música é algo muito abstrato que desperta sensações e emoções em cada um de nós das mais variadas formas. A música pode ser feita das mais variadas formas; seja através de instrumentos musicais, de assobios, de “pancadas” na parede, em objetos ou de objetos aleatórios, enfim, de qualquer coisa. Desde que faça sentido na cabeça de cada um e faça despertar algo. O facto de um som conseguir fazer alterações físicas num corpo, tal como arrepios na pele, quer dizer muita coisa… Para mim, das coisas mais belas e terapêuticas que pode haver.

De que maneira a música começou a fazer parte da tua vida?

MA: Desde pequeno que me lembro… Os meus pais ouviam muita música, em viagens no carro, em casa, etc. O que fez com que sempre houvesse algum contacto com música. Sempre que via filmes ou jogava jogos estava sempre atento à música e aos sons que estavam por detrás e tentava perceber que tipo de instrumentos é que estavam a tocar. Parece um bocado estranho, mas era assim.
Além disso, a minha irmã estudou piano numa escola de música na Amadora, local onde cresci e moro atualmente, e por isso, sempre me habituei a ouvir e a perceber como é que ela fazia para praticar e desenvolver as suas skills enquanto pianista. Um pouco mais tarde, aos meus 10 anos, mais ou menos, quis aprender a tocar bateria, mas os meus pais nunca foram muito apologistas devido ao barulho que poderia fazer para os vizinhos, o que me fez desmotivar daquela ideia, talvez temporária, que me passou na cabeça naquela altura!
Mais tarde, aos 14 anos surgiu uma paixão enorme pelo meu verdadeiro instrumento, o Baixo. Sempre tive um gosto enorme pelo som e ritmo que dava às músicas que ouvia, porém, em criança não sabia que aquele som grave era produzido por aquele belo instrumento. E assim começou a minha aventura, consegui comprar um e não parei até hoje!


MA: Sim, muitas pessoas, principalmente os meus pais, que sempre foram um enorme suporte, força e motivação para continuar. Também muitos amigos músicos com quem toquei, que sempre me deram muita força, mas uma em especial que comigo quis formar uma banda chamada Soul Cats, essa pessoa chama-se Ariel Rosa. Estou sempre a dizer a ela que se não tivéssemos criado a banda talvez não estivesse como estou atualmente. Desde que a banda começou a tocar ao vivo nunca mais parei, graças à visibilidade que deu a cada um de nós.
Algumas influências de Baixistas foram, o Pino Palladino, o James Jamerson, o Bernard Edwards, o Louis Johnson, o Adam Blackstone, o Justin Raines, o Nathan Watts, o Marcus Miller, o Flea, Jamareo o Artis, entre outros.

Descreve-me o teu percurso profissional.

MA: Comecei desde cedo a tocar com bandas "de garagem" e a dar os meus primeiros concertos com 15 anos. Andei sempre em busca de cada vez mais projetos e pessoas com quem tocar para evoluir e ficar mais versátil. Também toquei com algumas bandas de originais como os Last Call, a minha primeira banda, os Kabala e algumas outras, isto até, mais ou menos aos meus 17 anos.
Posteriormente, comecei a entrar no circuito das bandas de covers, que ainda hoje faço, onde percorri alguns bares do nosso país. Profissionalmente comecei desde o momento que criei os Soul Cats juntamente com os meus amigos e colegas de banda. O porquê de isso ter acontecido foi devido ao facto de termos ficado até hoje como banda residente às terças-feiras num bar do Cais do Sodré chamado "Tokyo". Como anteriormente disse, deu alguma visibilidade ao meu trabalho e comecei a ser contratado para outros projetos e concertos.

Trabalhas com vários artistas, correto? Quem são e como é trabalhar com eles?

MA: Sim, de momento tenho o privilégio de trabalhar com o Plutónio, Bárbara Bandeira, Luís Sequeira, FRED e com a minha banda, os Soul Cats.
Cada um com uma personalidade e métodos de trabalho diferentes, o que me dá um gozo enorme de o fazer. Para além de tudo, tenho uma excelente amizade com cada um deles, o que facilita imenso as coisas.





Com qual mais gostas de atuar?

MA: É impossível responder a essa pergunta!
Gosto mesmo de cada um deles, pois cada um é muito diferente, e é isso que mais me atrai! Métodos e concertos diferentes, melhor não poderia pedir!

Como caracterizas o teu trabalho como “Baixista”?

MA: Como “Baixista”, o meu tipo de trabalho varia muito de projeto para projeto. Utilizo linguagens e técnicas diferentes em variados estilos. Por exemplo, no Funk, posso ter mais "liberdade" de recorrer a técnicas como o slap, no Pop uma abordagem mais "respirada" e de vez em quando colocar as chamadas gospel chops. No entanto, no geral sou muito influenciado pelo Funk, R&B e um pouco pelo Gospel.

Na qualidade “Baixista”, o que mais gostas na tua profissão?

MA: O que mais gosto nesta bela profissão é o facto de estar constantemente a conhecer pessoas novas, conhecer sítios novos, pois adoro viajar e acima de tudo fugir a rotinas! Outra coisa que me fascina nesta profissão é o facto de desencadear sentimentos e emoções a quem nos está a ouvir.

E o que menos gostas?

MA: Esta é difícil. Talvez o facto de por vezes ficar doente em dia de concerto e ter de viajar com uma pior disposição! Tirando isso, “tudo beleza”!

Quais as características que achas que são necessárias para ser um bom músico?

MA: Acima de tudo uma personalidade fácil de lidar e de trabalhar, um bom espírito de equipa, pois passamos imenso tempo em estrada e a boa disposição é fulcral. Tecnicamente passa muito por ouvir tudo o que passa à nossa volta quando estamos a tocar em conjunto e sabermos o nosso espaço e função.

Sentes que as pessoas reconhecem o trabalho que realizas com os outros artistas?

MA: Nunca pensei muito nisso, mas penso que sim. São artistas com "nome", por isso julgo que inconscientemente as pessoas acabem por reconhecer o meu trabalho e dos meus colegas, ainda que não da mesma forma que o mesmo reconhecimento dos artistas com quem estamos a acompanhar. Ainda assim, as coisas aos poucos estão a melhorar e toda a equipa que está "por de trás" do artista está a ganhar mais reconhecimento graças a entrevistas como esta, por isso, muito obrigado Sofia!

Qual foi a melhor coisa que já te disseram em toda a tua carreira?

MA: Não me recordo de nada em específico, mas acaba por saber sempre bem depois dos concertos receber elogios construtivos e saber que deixei alguém feliz ou inspirado. Dá uma espécie de força para continuar a perceção de que há sempre reconhecimento do nosso trabalho por parte do público.

Nesta profissão, como é assegurar a vida pessoal, passando a maior parte do tempo a viajar?

MA: É tudo uma questão de gestão. Se sei que há uma fase que vou ter mais fluxo de trabalho, acabo por compensar a família e amigos antes ou depois dessa fase. Acima de tudo, os que estão comigo respeitam este estilo de vida.

Pensas em realizar, um dia, uma carreira a solo?

MA: Sim, tenho pensado bastante nisso. Vou querer deixar a minha marca, não só pelo que já gravei para outros ou concertos feitos para outros, mas também por algo que realmente começou a ser criado através de mim e das minhas influências. Dar concertos e tocar com os meus artistas é uma sensação brutal, mas gravar e tocar ao vivo o meu trabalho tenho a certeza que também irá ser uma experiência incrível! Com o tempo irá ser desenvolvido.

Quais são os teus objetivos profissionais, o que procuras para elevares a tua carreira?

MA: Continuar a desenvolver o que tenho vindo a desenvolver, continuar a tocar com quem realmente me faz feliz, conhecer e trabalhar com cada vez mais gente boa! Como disse anteriormente, aos poucos ir produzindo o meu som para um dia mostrar ao mundo o que vem cá de dentro!

Imaginavas-te a fazer alguma outra coisa sem ser trabalhar no ramo da música?

MA: Gosto muito da área da psicologia, pois tenho um gosto enorme em ajudar e perceber a mente humana, talvez tenha sido uma carreira que me tenha passado ao lado.
Para além disto, também já trabalhei em atendimento ao público, aprendi muita coisa e ajudou-me a crescer. Mas muito sinceramente só me imagino na área da música.

Como te idealizas daqui a 10 anos?

MA: Daqui a 10 anos, imagino-me a continuar a atuar ao vivo com bastante frequência numa boa tour nacional ou internacional. E também, continuar a acompanhar muita gente talentosa e claramente, ter bastante música minha produzida.

Que conselho sugeres aquelas pessoas que querem ter uma carreira profissional baseada na música?

MA: Nunca desistam de ir atrás dos vossos sonhos e objetivos, se não formos nós a fazer por nós, ninguém o irá fazer. Trabalhem em casa, vão ver concertos, troquem ideias com pessoas que vos inspirem e acima de tudo, respeitem as ideias, valores e trabalhos uns dos outros. A união faz a força.













Fonte das Fotografias: Márcio Augusto

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