"Tudo te pode inspirar, desde que, estejas de olhos abertos", 2º Parte, The Black Mamba



Sofia: Falem-me um pouco das vossas músicas, qual é aquela que vocês gostam mais de tocar? A mais especial, têm alguma?

Tatanka: Temos várias, há algumas que a gente começou a não conseguir tocar (risos) Há algumas que a gente gosta muito, pelo menos duas que a gente nunca toca e são das nossas favoritas…

Sofia: E porque que não tocam?

Tatanka: Tem de haver uma gestão do que nós queremos, do que o povo quer. As pessoas que pagam para te vir ver, são as mesmas que te permitem ter está profissão, percebes? E então, tem de haver uma copulação sempre muito bem medida entre o que tu queres fazer e o que as pessoas querem ouvir, e depois tens de montar em função disso, um concerto que tenha dinâmica, que tenha coesão para poder ter os momentos todos que um concerto necessita… Um concerto precisa de momentos muito enérgicos, precisa de ter momentos íntimos muito intensos, precisa de ter, também, momentos íntimos menos intensos e menos enérgicos, precisas de ter ali dinâmicas diferentes, não é só cantar e tocar. É tudo muito bem planeado. E então, há duas músicas que a gente adora tocar, mas que não tocamos à anos, porque temos músicas dentro do mesmo estilo que são singles que toda gente conhece, e que não podemos tirar, porque o público ia sentir-se defraudado, se não tocarmos, aquela, aquela e aquela… Como elas têm um estilo parecido nós temos de preferir as múicas que são menos conhecidas nesse caso, então tocamos as músicas menos conhecidas, mas que dão dinâmica e energia ao show, e essas a gente consegue tocar sempre, porque não estão nas rádios, nem no youtube, e as pessoas só conhecem dos concertos, porque dá a tal dinâmica que o show precisa. As músicas que gostamos “Ride the sun” e “Winter gost” são as nossas favoritas, é geral, é unânimo. E são músicas que a gente não pode tocar, porque tem estilos parecido com “Wonder Why”, “I’ll Meet You There”, que foram singles. E então temos de tocar os singles, independente dessas, e por isso, é difícil responder a essa pergunta porque essas duas músicas são das nossas favoritas, e não as tocamos muitas vezes, porém, de todas as que tocamos nos concertos, quais é que são as favoritas?

Miguel: Há muitas, é sempre difícil… Por exemplo, ainda hoje abrimos com” My Blood Diamonds”, esse é um tema que dá uma pica, falo pessoalmente, gosto imenso desse tema, e todo aquele … inicial, dessa música. Depois cola com “I Want My Money Back”, “Rock me baby”, para mim esse início do concerto se corre bem, o concerto já está ganho!

Tatanka: E é logo, nunca tinha visto isto, mas é uma música de cada disco, uma do último, uma do segundo e uma do primeiro, que engraçado!


Sofia: Como é criar uma música em todo o seu processo, e depois apresentá-la? Qual é a sensação?

Tatanka: Criar é um processo filha da mãe… (risos)

Sofia: Como é que te inspiras?

Tatanka: Sei lá, no meu caso não é sempre igual. As coisas vão inspirando, é preciso estar sempre de olhos abertos, por exemplo, vais na rua e vez um velho, pode-te inspirar, passas nas rua vez um gajo, que não é um velho, não é um mendigo, não é uma criança, é um gajo normal, pode-te inspirar… Tens uma música lindíssima do Miguel Araújo, que retrata exatamente isso, um gajo normal, que quer um sapato barato, lua de mel em frança… Essa cena é incrível, é tipo o comum cidadão que vai passar a lua de mel a França e quer um sapato barato, fatinho não sei o que, essa cena pode te inspirar também, estas a ver? O gajo ganhou inspiração num individuo qualquer que passou por ele, de jornal debaixo do braço, e pastinha na mão, certamente foi, nunca lhe perguntei… Tudo te pode inspirar, desde que, estejas de olhos abertos.

Sofia: O que pretendes que as pessoas sintam ao ouvirem as tuas músicas?

Tatanka: É difícil que as pessoas sintam o mesmo que nós. Nós temos sempre a preocupação de atingir o coração das pessoas, ou de fazer as pessoas pensar, quer dizer, depende da música. Há músicas que são para as pessoas dançarem, a mensagem não tem de ser tão requintada, não ter de caráter de consciência social, humanista, pode ser uma música só para dançar, como o James Brown “get up, get on, get up”, o gajo não diz mais nada, diz só isto, essa cena é só para as pessoas dançar, toda gente dança essa song. Ele não tem que estar a dizer uma cena tipo Allan, ou um poema tipo Bob Dylan, só diz “get up, get on” (risos) Então depois tu vais ouvir Bob Dylan “once upon a time, you dressed so fine“ é uma pessoa que se está a esquecer das suas origens, está-se a esquecer de quando não tinha um chicote e pedia também na rua. Agora ela passa e está no prime dela, e manda assim, um diamond ao mendigo com desprezo.

Sofia: Antes de estares aqui, o que pensavas que era ser cantor, e o que realmente é?

Tatanka: Ser cantor é uma chatice do caraças, sabes porquê? Vou te explicar porquê! Tens de estar sempre preocupado com não levar sol na cabeça, tens de estar sempre preocupado em não beber coisas frias, tens de estar preocupado em não comer demais, se não vais arrotar para o palco, é uma grande merd* ser cantor, na verdade. As pessoas que não se iludam, porque ser cantor, tem um lado de seres sempre o gajo mais reconhecido da banda, tu estás sempre a ser o gajo que vai tirar fotos, o que também, é uma seca tirar fotos o tempo inteiro, não podes ir agora ao concerto da Mariza, mas não é o nosso caso… Conheço amigos que era impossível irem para o meio do público ver o concerto da Mariza sem estarem a ser massacrados. Ser cantor é uma cena que na sua essência é altamente, porque é o único instrumento que é totalmente humano, é o único, não há mais nenhum. Todo o resto, são invenções dos humanos, onde os humanos interagem com essas invenções. E então a voz, é a única cena que é exatamente como que tu nasceste, és orgânico, é orgânico, é humano, é a voz. Apesar de, atualmente, há uma tendência grande para se destruir isso, como aquelas vozes sempre iguais dos robôs e o caraças… E eu curto ouvir, só que depois, eu não sei quem é que é quem, e essa merd* pode ser mau, pode ser grave, porque tu quando ouves um gajo a cantar, dizes “é aquele!”. Quando vês um gajo a tocar guitarra não sabes, a não ser que seja o Santana, o Bb king, aqueles gajos quitados… ou bateria… Há gajos muito craques, que um gajo que goste muito de música vai saber que é ele, porque uma pessoa qualquer comum não sabe, e uma pessoa qualquer comum, sabe se é o Zambujo. Não precisas de conhecer a música, sabes quem é o gajo. Ou sabe que é o Salvador Sobral, ou a Mariza, ou sabe que é o Bryan Ferry. E essa cena é o único instrumento humano, orgânico, que não crias, é teu nasceu contigo. Essa cena é super bonita, é super natural, é super predestinada também, e tem uma data de cenas mais filosófico espirituais, no meio dessa cena.


Sofia: Qual é que foi o melhor momento da vossa carreira?

Tatanka: Felizmente, temos muitos!

Miguel: Houve vários. Posso dizer, ele deve ter um diferente do meu, mas aqui nos The Black Mamba, gostei muito de tocar no festival Marés Vivas o ano passado, gostei muito! É um festival de grande prestígio nacional, com grandes nomes, internacionais e line-up incrível. Já tínhamos tocado no palco secundário numa outra edição. Felizmente, como o Pedro disse à bocado, nós já tocamos por esse mundo fora, e aqui em Portugal. Mas esse, eu senti uma conquista. “Olha estamos aqui num festival, palco principal”, e tocamos à noite, isso nunca tínhamos feito num palco principal, apesar de, já termos tocado em palcos principais. Porém, tocar à noite é diferente.

Tatanka: Esse é um dos top três, o coliseu do Porto, que foi o primeiro que fizemos, é incrível, porque foi uma produção nossa e as pessoas pagaram bilhete para nos ir ver, 3000 pessoas, incrível essa cena. É uma conquista muito grande para qualquer banda. Nós fizemos duas vezes o palco principal do Marés Vivas, e duas vezes o palco do Alive, e ele tem razão, nós sempre fizemos o palco principal do Alive. Mas segundo, foi quase igual à noite, tocamos um sábado e estavam quase 50000 pessoas a ver, e depois quando tiramos a foto e depois vimos a foto no telemóvel, é que a gente viu quantas pessoas estavam, estava cheio.

Sofia: Não vos assusta terem tanta gente a ouvir-vos?

Tatanka: Quanto mais perto depois perdes, só vês os que estão à frente

Miguel: Este cenário do Alive era tipo, falo por mim, era aquilo que idealizavas quando eras pequenino, era aquele mar de gente, era abrir os olhos e eles estavam lá.

Tatanka: As pessoas gritam e parecia os Beatles

Miguel: É um sonho!

Tatanka: O Marés Vivas foi à noite, é verdade, mudou, foi porque trocamos com a Carolina Deslandes, porque ela ia tocar a outro sítio, e ela é que ia tocar na nossa cena mais tarde, e nos íamos tocar outra vez à tarde, já tinhamos lá estado a tocar noutro ano. E há noite muda, porque o pessoal esta numa vibe diferente, já esta tudo mais ligado, o ambiente é diferente. Mas o top six, são os dois Alives, dois Marés Vivas, e os dois coliseus.

Sofia: O que queriam concretizar na vossa carreira profissional que ainda não tenham tido oportunidade?

Tatanka: Tem muita coisa! Um dos nossos objetivos é internacionalizar com regularidade e com alguma consistência, internacionalizamos muito já, já tocamos no Brasil, em São Paulo, em Angola, Noruega, Espanha, Filadelfia, Estados Unidos, gravamos em Nova Iorque, Holanda, Londres, Amesterdão, já internacionalizamos muito, mas sentimos que queremos ter uma presença mais assídua e mais constante, e que as pessoas lá fora nos conheçam, como nos conhecem aqui. E esse, é o nosso principal objetivo a atingir nos próximos cinco anos, porque é uma batalha mais dura de travar do que aqui. Há pessoas com muito talento a fazer a mesma cena, e então esse é o principal objetivo porque tendo em conta aquilo que já descrevemos aqui, já não há muita coisa. (risos)

Sofia: Algum conselho para quem tem o mesmo sonho de seguir alguma arte?

Tatanka: Eu tenho um muito específico, tenho dois! Primeiro é ter muita paixão por aquilo que faz, e esquecer um bocadinho o ruido à volta, porque atualmente, vivemos sob as impressões das redes sociais, e estamos sempre com uma ansia de ir ao pote, e isso pode criar uma frustração automática, porque estas a ver as pessoas todas a tocar num palco não sei que, e tu “também quero, tenho talento”, tu sabes que tens, e até talvez há um que tem menos, é preciso ter muita perseverança e acima de tudo uma paixão muto grande pela arte e pelo aquilo que fazes, e depois se tudo correr bem pode vir os louros dessa dedicação, paixão, calor, dessa febre que tu tens a fazer os teus mambos. Isso é muito importante! Depois é ter muita paciência e não esperar estar sempre bem de guito (risos) Porque o guito bem depois.







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